Não foi por amor ao dinheiro
nem foi por jóias
nem sequer por um vestido de seda.
Nem foi também por teres casa
móveis decentes, melhor vida.
Não, não foi por nada disto.
Tu, só tu sabes por que sorriste
e o teu coração bateu um pouco mais forte
quando o barco americano entrou no porto...
terça-feira, 23 de setembro de 2014
#16 - A UMA QUALQUER, Yolanda Morazzo
domingo, 21 de setembro de 2014
#15 - PRELÚDIO, Alda Lara
Pela estrada desce a noite
Mãe-Negra, desce com ela...
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem houve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada...
Mãe-Negra, desce com ela...
Nem buganvílias vermelhas,
nem vestidinhos de folhos,
nem brincadeiras de guisos,
nas suas mãos apertadas.
Só duas lágrimas grossas,
em duas faces cansadas.
Mãe-Negra tem voz de vento,
voz de silêncio batendo
nas folhas do cajueiro...
Tem voz de noite, descendo,
de mansinho, pela estrada...
Que é feito desses meninos
que gostava de embalar?...
Que é feito desses meninos
que ela ajudou a criar?...
Quem houve agora as histórias
que costumava contar?...
Mãe-Negra não sabe nada...
Mas ai de quem sabe tudo,
como eu sei tudo
Mãe-Negra!...
Os teus meninos cresceram,
e esqueceram as histórias
que costumavas contar...
Muitos partiram p'ra longe,
quem sabe se hão-de voltar!...
Só tu ficaste esperando,
mãos cruzadas no regaço,
bem quieta bem calada.
É tua a voz deste vento,
desta saudade descendo,
de mansinho pela estrada...
Lisboa, 1951
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
#14 - FUGA, Nuno Júdice
Canto a noite dos clandestinos, os que se
encostam aos muros e falam com o vento,
os que se vestem de negro, para se confundirem
com a noite, os que se deixam perseguir pela
sua sombra, e a expulsam de trás de si, quando
alguém se aproxima. Acompanho os seus gestos lentos,
saboreando o instante do próximo
encontro; e ouço as suas palavras na voz baixa
do cais, confundindo-se com
o ruído da água contra a pedra. Entro com eles
na barca da solidão, falando com o vazio
como se a única resposta fosse
a que nasce do musgo das caves. Afasto
de ao pé deles os cães que os seguem;
e vejo-os desaparecerem, mais
e mais longe, onde o futuro se dissipa
sob a névoa cinzenta das madrugadas
que nunca chegaram.
encostam aos muros e falam com o vento,
os que se vestem de negro, para se confundirem
com a noite, os que se deixam perseguir pela
sua sombra, e a expulsam de trás de si, quando
alguém se aproxima. Acompanho os seus gestos lentos,
saboreando o instante do próximo
encontro; e ouço as suas palavras na voz baixa
do cais, confundindo-se com
o ruído da água contra a pedra. Entro com eles
na barca da solidão, falando com o vazio
como se a única resposta fosse
a que nasce do musgo das caves. Afasto
de ao pé deles os cães que os seguem;
e vejo-os desaparecerem, mais
e mais longe, onde o futuro se dissipa
sob a névoa cinzenta das madrugadas
que nunca chegaram.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
#13 - DO LAVRADOR, Mário de Oliveira
de tudo plantou na vida
no exato tempo e na hora.
pegando firme na enxada
cavou fundo na memória.
primeiro quando de colo
plantara leite materno,
logo à frente plantaria
brinquedos, livro, caderno.
semeou depois nos brejos
grão de arroz e sua sala:
não tardou que a casa toda
fosse espalhada na vala.
mais tarde deitou seu sono
dentro de cascas de ervilha
cultivou tomate e soja
sem salitre e fantasia.
quarta-feira plantou fava
muitas quintas plantou milho,
pôs de adubo nas raízes
esterco e leite do filho.
curvado sobre si mesmo
plantou de tudo na vida:
mudas tenras e sementes
do que não teve e não tinha.
plantou coisas que o terreno
reduz a brisas, quimera,
quando o outono desce lento
quando explode a primavera.
no exato tempo e na hora.
pegando firme na enxada
cavou fundo na memória.
primeiro quando de colo
plantara leite materno,
logo à frente plantaria
brinquedos, livro, caderno.
semeou depois nos brejos
grão de arroz e sua sala:
não tardou que a casa toda
fosse espalhada na vala.
mais tarde deitou seu sono
dentro de cascas de ervilha
cultivou tomate e soja
sem salitre e fantasia.
quarta-feira plantou fava
muitas quintas plantou milho,
pôs de adubo nas raízes
esterco e leite do filho.
curvado sobre si mesmo
plantou de tudo na vida:
mudas tenras e sementes
do que não teve e não tinha.
plantou coisas que o terreno
reduz a brisas, quimera,
quando o outono desce lento
quando explode a primavera.
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
#12 - POEMA, Onésimo Silveira
Para quê chorar
Se as suas mãos são limpas
A sua culpa inocente
E a mudez das suas vozes
Bandeiras desfraldadas?
Chorar só porque levam
A esperança amachucada
Na sua mala de contratados;
Chorar só porque sangram os seus pés
Na lonjura dos caminhos;
Chorar só porque eles choram
Como choram os meninos sem pão
-- Não, não vale a pena chorar!
Para quê chorar
Se na sua mala de contratados
Levam também os farrapos das suas afrontas?
Se as suas mãos são limpas
A sua culpa inocente
E a mudez das suas vozes
Bandeiras desfraldadas?
Chorar só porque levam
A esperança amachucada
Na sua mala de contratados;
Chorar só porque sangram os seus pés
Na lonjura dos caminhos;
Chorar só porque eles choram
Como choram os meninos sem pão
-- Não, não vale a pena chorar!
Para quê chorar
Se na sua mala de contratados
Levam também os farrapos das suas afrontas?
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
#11 - SONETILHO VELHO E ACTUAL, José Fernandes Fafe
Companheiro, ouves os choupos
gemendo mágoas de agora?
Os ventos sibilam roucos
a hora da nossa hora.
Noite de almas, noite fria...
O luar não traz mensagem...
Cada noite tem um dia.
Noite tirana, que a rasguem.
Sofro, noite... Sofre gente...
Cantam galos para o nascente...
Futuro, como nos pagas?
Pausa mais pausa é demência.
Na noite da consciência
versos só podem ser pragas!
Subscrever:
Mensagens (Atom)