Aqui é a ilha dos navios perdidos,
dos navios abalroados, afundados
nos naufrágios...
Esta é a ilha perdida nos mapas,
perdida no mar dos sargaços;
este é o mar das Tormentas,
das tormentas desta vida,
onde há só tempestades e agoiros;
o céu
é esta noite negra sem limites
onde não vive um astro, uma nuvem ou uma asa;
a terra é esta,
os cascos oscilantes
dos mil navios perdidos:
Naus da Índia,
barcos piratas de moiros,
fragatas e caravelas,
navios dos Corte-Reais
onde jazem insepultos
os heróis mais verdadeiros
e os sonhos mais colossais.
-- Nos mastros desmantelados
flutuam,
rotos e desbotados,
estandartes imperiais
e nos porões arrombados,
nos cofres de segredos inúteis,
dormem os tesoiros arrancados
a todos os orientes.
Não há grandeza que baste
quando a desgraça é tamanha!...
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
quinta-feira, 27 de outubro de 2016
#52 - CANÇÃO DE NHA CHICA, Armando Lima Júnior
Nha Chica mulher rija
sete filhos para criar
perdeu seu marido no mar
Andou mexeu vendeu
carregou e criou
seus filhos-de-parida
Os filhos cresceram
voltaram patrões
com suor de Nha Chica
Faltou força e catchupa
seu xaile e seu lenço
sua vida de outrora
Voltou pedinte
de sábado-maria-santíssima
das ruas da cidade
Depois, perdida no esquecimento
foram quatro homens
e um caixão d'Igreja
Nha Chica mulher rija
com sua sina cumprida
morreu sorrindo...
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
#51 - MAGAÍÇA, Reinaldo Ferreira (F.º)
Magaíça, ao partir, não se prende
mas sofrendo no Rand é que aprende
que a mina é inferno, desterro e má sina,
que a terra é o céu de quem vive na mina!
Vem ver o sol, vem ver,
que é morte viver
debaixo do chão!
Diz, Magaíça, diz,
diz adeus à raiz,
diz adeus ao carvão...
O oiro que a mina te dá
não paga a saudade que há
no teu coração!
É lá fora que correm gazelas,
é lá fora que há nuvens e estrelas,
que o milho espigado, na seara a crescer,
parece que pede que o venham colher!
mas sofrendo no Rand é que aprende
que a mina é inferno, desterro e má sina,
que a terra é o céu de quem vive na mina!
Vem ver o sol, vem ver,
que é morte viver
debaixo do chão!
Diz, Magaíça, diz,
diz adeus à raiz,
diz adeus ao carvão...
O oiro que a mina te dá
não paga a saudade que há
no teu coração!
É lá fora que correm gazelas,
é lá fora que há nuvens e estrelas,
que o milho espigado, na seara a crescer,
parece que pede que o venham colher!
sexta-feira, 21 de outubro de 2016
#50 - DOIS POEMAS DA PRAIA DA AREIA BRANCA, Sidónio Muralha
1
Na Praia da Areia Branca
os búzios não falam só do mar:
-- falam das pragas, dos clamores,
da fome dos pescadores
e dos lenços tristes a acenar.
Búzios da Praia da Areia Branca:
-- um dia
haveis de falar
unicamente do mar.
2
No fundo do mar,
há barcos, tesoiros,
segredos por desvendar
e marinheiros que foram morenos ou loiros.
Ali, não são morenos nem loiros,
-- são formas breves, a descansar,
sem ambições para os tesoiros
e de cabelos verdes dos limos do mar.
Serenos, serenos, repousam os mortos,
-- enquanto o mar
ensina o mundo a falar
a mesma língua em todos os pontos.
Na Praia da Areia Branca
os búzios não falam só do mar:
-- falam das pragas, dos clamores,
da fome dos pescadores
e dos lenços tristes a acenar.
Búzios da Praia da Areia Branca:
-- um dia
haveis de falar
unicamente do mar.
2
No fundo do mar,
há barcos, tesoiros,
segredos por desvendar
e marinheiros que foram morenos ou loiros.
Ali, não são morenos nem loiros,
-- são formas breves, a descansar,
sem ambições para os tesoiros
e de cabelos verdes dos limos do mar.
Serenos, serenos, repousam os mortos,
-- enquanto o mar
ensina o mundo a falar
a mesma língua em todos os pontos.
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
#49 - CANTO DE BAR, Mário Dionísio
Canta, cantor esquecido, tuas valsas de angústia!
Aqui o canto de bar,
onde vêm parar os que serão suicidas,
gente de todas as nações falando todas as línguas,
emigrados de todos os países.
Aqui o canto de bar
onde ancorou o jogador arruinado
e as mulheres que perderam o número dos amantes
e os moços que sonharm vidas que não puderam ter.
Onde cantores esquecidos cantam valsas lentas e antigas
que trazem a recordação de lares despedaçados.
Onde vieram parar os maltrapilhos perdidos para sempre
e onde as valsas cantadas por vozes arrastadas,
que lembram multidões de coisas,
já não trazem a mínima saudade.
Aqui onde se sabe indiferentemente
que o homem saído há pouco
estendeu a corda e se enforcou na escada.
Aqui onde se joga tudo sem interesse
porque já não há nada para jogar.
É o canto soturno
onde não entra sol nem lua.
Janelas fechadas, só fumo e luz vermelha.,
mulheres de todas as raças de cabelos degrenhados.
Aqui o canto de bar
onde veio parar o lixo de todas as nações.
(Todos que estavam a mais nas cidades e nos lares...)
Canta, cantor esquecido, tuas valsas de angústia!
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